Conhecendo Chopin
- cursinoana
- 19 de set.
- 2 min de leitura
Eu e Taísa estivemos trabalhando um dos Prelúdios op.28 do Chopin, e ela me enviou alguns vídeos.
Taísa conheceu Chopin com noturnos e uma valsa, mas quando vi que ela queria mesmo saber quem, afinal, era Chopin, foi o Prelúdio em si menor que lhe ofereci.
Se você quer mostrar quem é Chopin para alguém que não o conhece, ofereça os Prelúdios op.28. Eu cheguei a essa conclusão há algum tempo.
Lá tem tudo: vigor expressivo, experimentação harmônica, virtuosismo romântico.
Mas o op. 28 não é um best of. É mais uma cápsula: está tudo encapsulado numa simplicidade desconcertante, miniaturística, um álbum de fotografias instantâneas. Sei lá, aforismos. Quem toca piano ou ouve muito Chopin vai concordar comigo.
Pra quem pensa que Chopin era só um compositor de salão, que admire o caleidoscópio do op.28: jogo de espelhos que atira imagens de dentro pra fora e se deixa cortar de fora pra dentro, dialogando, acenando o tempo todo. O op.28 é um longo aceno, um desses acenos de chapéu (que Chopin não usava). Um aceno de séculos às indagações de Bach em seus próprios prelúdios... o op.28 do Chopin é uma antologia poética. Ricercare com érre maiúsculo.
Em termos técnicos, o Prelúdio em si menor oferece a oportunidade de ouvir uma melodia no registro grave, e com isso impõe um desafio ao pianista: o de equilibrar as vozes ao contrário. É que, por algum motivo, a cultura educa que ouçamos as coisas de uma maneira só. Por isso é interessante introduzir essas peças a alunos que estejam interessados em ouvir as coisas de outra maneira. E digo ouvir e não tocar porque pra tocar é imprescindível ouvir.
É isso o que eu e Taísa trabalhamos. Fico feliz e orgulhosa em ouvir o que ela tem criado com as direções de frase (que ela tem cuidado bem, sobretudo quando o gesto ascendente arrisca ganhar terreno perto dos acordes, no registro médio), a constância discreta do acompanhamento.
É bonito saber que daqui a algum tempo ela vai poder revisitar essa peça com segurança, porque estudou certinho. E o reencontro vai oferecer novas janelas, e assim será sempre, num ciclo. De que outra maneira uma obra tão antiga sobreviveria?
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